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Israel Hollmann, Israel Rosenthal e Jacob Benemond

Israel Hollmann Israel era mecânico de vôo da FAB, também de Quatro Irmãos e já falecido. Era primo dos também ex-combaténtes Heitor Sennes Pinto e Moisés Gitz, os três originários da Colônia Agrícola de Quatro Irmãos, criada pelo Barão Hirsch no interior do Rio Grande do Sul. Israel Rosenthal Israel nasceu no Rio de Janeiro aos 7/fev/21. Seus pais Rubin e Clara emigraram da Bessarábia, hoje Moldávia, no começo do século XX, indo morar na Praça XI. Israel estudou no Colégio Nacional e apresentou-se como voluntário para prestar o Serviço Militar. Prestou exame de admissão para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, CPOR/RJ, tendo sido aprovado e matriculado no Curso de Infantaria. Entre seus contemporâneos, havia vários rapazes judeus, que simultaneamente cursavam faculdades e o CPOR, entre os quais Marcos Cerkes, Pedro Kullock e Salomão Malina, que integraram a FEB, e os médicos Isac Faerchtein e Jacob Kleiman, que não foram à guerra, bem como Reuven Josef Rosental, aluno do 2° Ano do Curso de Artilharia falecido em 15 set 1944, em decorrência de um acidente quando montava um cavalo que disparou durante exercício na Barreira do Vasco, indo de encontro a um bonde. Israel formou-se Cirurgião-Dentista pela Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil em 1943, tendo obtido um dos primeiros registros no CRO-RJ sob nº 196. Em concorrida cerimônia no Estádio do Vasco da Gama em São Januário, Israel foi declarado Aspirante a Oficial da Arma de Infantaria, na Turma de 1944. A 19 de dezembro de 1944, o Aspirante a Oficial R/2 Israel foi convocado para o serviço ativo, apresentando-se no Centro de Recompletamento de Pessoal – CRP/FEB, tendo sido classificado no 2º RI e designado subalterno da Companhia de Metralhadoras do III Btl. Aos 8 de fevereiro de 1945 embarcou no transporte de tropas americano USS General Meighs, com destino ao Teatro de Operações da Itália. Naquela época, o Brasil era ainda um país essencialmente agrícola, com a população carente de serviços de saúde, particularmente dentários. Um soldado com dor de dente ou um canal infeccionado era um soldado fora de combaté, assim, dada a carência de profissionais no Brasil em geral, e na FEB em particular, Isarel, dada a sua condição de cirurgião dentista formado, foi logo requisitado pelo Comando. Ele seria tão útil ao esforço de guerra em um Gabinete Odontológico, empunhando brocas e boticões, quanto no front à frente de um Pelotão de Infantaria. Assim, Israel foi reforçar o aténdimento aos soldados que sofriam, e não eram poucos, já que para 25 mil homens, havia apenas 25 dentistas, uma relação extremamente baixa. Como resultado, Israel e seus colegas do Serviços Odontológico trabalhavam quase sem parar 7 dias por semana, saindo do Gabinete praticamente apenas para dormir. O horário era de 7 as 12 e 13 as 17, mas frequentemente ultrapassado, com as refeições feitas também no Gabinete. Como agravante não havia energia elétrica no Depósito de Pessoal, que enquadrava o Gabinete. Era um dos 4 únicos oficiais combaténtes formados em Odontologia, já que os demais pertenciam ao Serviços de Saúde do Exército, e pela sua atuação exemplar, Israel foi elogiado em Boletim pelo Major Virgilio, Chefe do Serviço de Saúde do Depósito de Pessoal da FEB. “... apesar de pertencer aos Quadros das Armas, pelos inestimáveis serviços profissionais prestados, cooperando para o bom êxito e eficiência do Serviço de Saúde, demonstrando conhecimentos amplos e amor à profissão, a par de esmerada educação civil e militar. Disciplinado, possuidor de espírito de camaradagem, muito tem contribuído para o bom andamento do Serviço Odontológico.” O Boletim estava assinado pelo Coronel Mario Travassos, Comandante do DP/FEB. Em 4 de agosto de 1945, por Decreto do Presidente da República, foi promovido ao posto de 2º Tenente da Reserva, tendo aos 28 de agosto de 1945 se deslocado juntamente com o III Btl Inf em caminhão de Francolise para Nápoles, onde ocorreu o embarque no Navio de Transporte de Tropas Duque de Caxias, com destino ao Brasil via Lisboa. Em 3 de setembro, a tropa desembarcou em Lisboa, desfilando diante do Presidente da República Portuguesa, quando este condecorou todos os elementos do III Btl Inf com a Medalha de Ouro do Valor Militar. Por ter participado das operações de guerra na Itália, Israel foi condecorado pelo Presidente da República com a Medalha de Guerra e Medalha de Campanha pelo relevantes serviços prestados ao esforço de guerra, em diplomas assinados pelo Ministro da Guerra, General Pedro Aurélio de Góis Monteiro. Retornando ao Brasil, Israel continuou praticando os valores morais militares, como Conselheiro Nato da associação Nacional dos Veteranos da FEB, aonde chegou a Presidente do Conselho Fiscal, dividindo um gabinete com o falecido eminente General César Montagna de Souza, Presidente do Conselho Deliberativo, e ex-Presidente do Clube Militar, no prédio da Rua das Marrecas que abriga o Museu da FEB e serve de sustentáculo para as ultimas poucas centenas de Veteranos, todos já na casa dos 80 anos. Israel atuou também como voluntário na Policlínica da Sociedade Beneficiente Israelita, fundada em 06 abr 1920, na Rua Joaquim Palhares 595, Praça da Bandeira, conforme o Diretor Médico Dr Bernardo Grabois, em delaração datada de 29 jul 1947. Israel aposentou-se no Serviço Público Estadual, e vem atuando na ANVFEB durante décadas ajudando a defender os interesses dos veteranos, nem sempre lembrados em sua necessidades mais elementares. Pela sua valiosa atuação, foi agraciado com diversas condecorações, entre as quais: Membro Efetivo do I Congresso Brasileiro de Medicina Militar – São Paulo, 1954. Medalha da Vitória, Ass. Dos Ex-Combaténtes do Brasil, Seção Rio – 1985. Medalha da Conquista de Monte Castelo – Regimento Sampaio, 21/fev/1990. Medalha Marechal Mascarenhas de Moraes – 1992. Diploma Colaborador Emérito do Exército – 2003. Diploma da Ass. dos ex-Combaténtes do Brasil – Seção Nova Iguaçu. Este dedicado Soldado Brasileiro de fé judaica, após tantos anos de bons serviços prestados ao Exército e aos Veteranos da FEB em uma carreira exemplar seguiu para a Itália no mês de abril de 2005, como membro da Delegação Oficial do Exército Brasileiro para as comemorações dos 60 anos da Vitória Aliada na Europa. A seguir transcrevemos reportagem “Os garotos que vieram do Brasil para lutar pela liberação da Itália", de Alberto Riva, suplemento “II Venerdì” do jornal “La Repubblica” - 01/04/2005 (traduzido do italiano), realizada na sede da ANVFEB na Rua das Marrecas 35, Lapa, Rio de Janeiro, com depoimentos prestados por Israel e seu grande amigo e irmão de armas Cel Sérgio Gomes Pereira, Presidente da ANVFEB, também ele oriundo do CPOR/RJ. Eram os 25 mil homens da Força Expedicionária Brasileira, que chegaram após o General Clark. Sessenta anos depois, retornam em peregrinação em Roma, Nápoles, Livorno. E nos Apeninos, onde os uniformes de inverno lhes foram fornecidos pelos norte-americanos. Porque eles, a neve, nunca tinham visto. Do Pão de Açúcar aos Apeninos. Existe um pedaço de memória italiana no centro do Rio de Janeiro. Um prédio de cinco andares, apertado por edifícios de cimento e vidro na Rua das Marrecas, antiga estrada do bairro da Lapa. Sérgio Gomes Pereira, 81 anos, coronel reformado, sobe todos os dias até o quinto andar e senta atrás da sua mesa. É o Presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, a Força Expedicionária Brasileira, que de julho de 1944 até maio de 1945, teve seus homens junto às tropas norte-americanas do General Clark em território italiano. Para o Exército Brasileiro, sob o comando do General Mascarenhas de Moraes, era a primeira missão além das fronteiras nacionais. Para muitos daqueles homens, a primeira neve, jamais vista, e a primeira viagem, talvez a única, fora do Brasil. Dos 25 mil soldados, 457 nunca mais voltaram a ver a Baía de Guanabara, e quase 2.000 voltaram feridos e mutilados. Agora, depois de exatamente sessenta anos daquela expedição, Sérgio prepara-se para atravessar novamente o oceano: no final de abril estará chefiando uma delegação na Itália, empenhado em um tour nos lugares da memória: Roma, Staffoli, Pistoia, Montese, Collecchio, Gaggio Montano... Nomes de pequenas cidades que, no português claro do Coronel Gomes Pereira, soam familiares. Nomes de batalhas. No térreo de Rua das Marrecas 35, onde se encontra o Museu da expedição, aqueles nomes são fotografias em preto e branco, ou velhos uniformes colocados nas paredes, armas enferrujadas seqüestradas às SS, medalhas, cartas, recordações. “A sede da FEB é aqui” explica Sérgio Gomes “porque todos partimos do Rio. O porto era protegido, enquanto os outros eram ameaçados pelos submarinos alemães e italianos. Muitos navios tinham sido atacados e ocorreram mortes entre civis. Entramos em guerra por este motivo”. Para a guerra os tinha levado Getúlio Vargas, o Presidente-ditador, que governava sem interrupções desde a Revolução dos anos trinta. Até 1941, o Brasil tinha se mantido neutro. Mas, após Pearl Harbour, tinha declarado sua solidariedade aos Estados Unidos, portanto tinha cortado suas relações diplomáticas com o Eixo. A Alemaha de Hitler não tinha gostado - mesmo porque deste modo o Brasil tornava-se uma base preciosa para as missões Aliadas na África do Norte - e tinha começado a torpedear os navios da marinha mercante ao longo da costa do nordeste do País. Assim, em 22 de agosto de 1942, após outro afundamento, Vargas reuniu seus ministros e declarou guerra aos inimigos da democracia. Ele que não era exatamente um democrata. “Tornou-se um ditador somente em um segundo tempo” lembra Sérgio Gomes. “Não era fascista nem comunista, queria somente o poder. Mas não havia liberdade. As cartas que enviávamos do front, e aquelas que recebíamos, eram abertas e censuradas”. Antes, porém, ocorreu a viagem: “angústia” admite o coronel “e também medo. Não sabíamos aonde iríamos desembarcar. Somente no final descobrimos de estar em Nápoles. Mas a viagem não tinha terminado. O golfo era cheio de navios afundados. Assim, muitos foram transferidos para Livorno, com lanchas de desembarque que os norte-americanos tinham já usado na Normandia”. A Itália, para Sérgio Gomes, nascido no Rio mas por motivos familiares criado em São Paulo, apresentava-se de modo inesperado: “Pobreza” é a palavra que lhe saí da boca. “Fome absoluta. Eu não fui para Livorno, desembarquei em Nápoles para acompanhar um soldado em hospital e aquilo que pude ver impressionou-me". "A Itália estava pagando seus pecados”. E por falar nisto, Sérgio olha para um antigo companheiro que ainda hoje está com ele, na associação. O Tenente dentista Israel Rosenthal, aqui, confirmando aquelas lembranças como se fossem suas próprias. “Eu, ao invés, fui para Livorno”, conta Rosenthal “e chegar lá foi um pesadelo. O mar revolto, ninguém ficou de pé. Assumi logo o serviço junto a um hospital de campanha em Staffoli. Acredito de ter feito mais de cinco mil cirurgias. Não tínhamos energia elétrica nem água. Lembro que daquela localidade vinha um médico italiano que me pedia o anestésico porque ele não tinha mais”. Continua Sérgio: “Naqueles dias fizemos muitas amizades". "Nossos mortos foram sepultados em Pistóia, onde hoje há um monumento. Do meu pelotão morreram dezessete. Subimos para o norte e as batalhas foram duras: Monte Castello, Montese, Vignola. Não era fácil se orientar. Em cada um de nossos pelotões, tinha pelo menos um “partigiano” com a função de apoio. Eles conheciam bem as trilhas. Nos acompanhavam e logo após desapareciam para não serem presos pelos alemães”. Uma página de história que ficou, não sabemos porque, às margens do conflito. Mesmo se entre os brasileiros desembarcados na Itália houvesse pessoas que, posteriormente, tornaram-se famosas. Aquele que muitos consideram o maior cronista brasileiro, Ruben Braga (1913-1990), correspondente do Diário Carioca. Ou o pintor Carlos Scliar (1920-2001), que trouxe de volta uma agenda cheia de desenhos. Tinha Celso Furtado (1920-2004), que depois se tornou o maior economista brasileiro. “Partimos juntos e fizemos a viagem na mesma cabine” conta Rosenthal. “Estudava direito e falava um perfeito inglês, era o intérprete”. As lembranças, nas palavras dos veteranos, se acumulam. Nas velhas fotografias, irreais paisagens geladas e soldados enfiados em uma espécie de saco branco com capuz: “Os uniformes para o inverno, tinham sido fornecidos pelos norte-americanos. Nós partimos como se tivéssemos que combatér na África...”. E a saudade do Rio de Janeiro? Sérgio Gomes tem um flash: “Era um sábado de carnaval, acredito, no final de janeiro. Posicionamos-nos nas proximidades de Gaggio Montano, na neve. Do nosso rádio, ao invés das ordens da base, em um determinado momento ouvimos uma música. Era a festa que estava se desenvolvendo no Cassino da Urca, no Rio, o cassino onde se apresentavam todos os grandes da época, como Carmen Miranda. Não lembro o que fosse, mas era um samba, disto estou certo”. Jacob Benemond Jacob Benemond, Capitão-de-Longo-Curso, comandava o Olinda, segundo navio nacional a ser torpedeado por submarino nazista. Conseguiu salvar toda a tripulação, à deriva no mar gelado durante 36 horas. Jacob Benemond nasceu em Belém do Pará aos 05 agosto de 1881 e faleceu em 23 out 1960 no Rio de Janeiro. Era filho de Abraham Benemond e Emilia Benemond. Freqüentava a Sinagoga Shell Guemilut Hassadim. Pelo heroísmo demonstrado no episódio do afundamento do Olinda, o Comandante Benemond foi condecorado pelo Presidente da República com as medalhas: Medalha de Serviços de Guerra, tendo em consideração os valiosos serviços prestados ao país. Medalha do Mérito Naval com 3 Estrelas como recompensa aos valiosos serviços prestados em 18 de fevereiro de 1942 ao ser o Olinda torpedeado por um submarino alemão, quando com risco da própria vida corajosamente efetuou em meio ao pânico geral o salvamento dos 46 homens da guarnição, reunindo-os em duas baleeiras abastecidas que permaneceram à espera de socorro durante 30 horas consecutivas. Ordem do Mérito Naval Durante as comemorações da Semana da Marinha, várias personalidades foram condecoradas com a Ordem do Mérito Naval, entre outras, o Sr. Cornélio Verolme, General Pantaleão Pessoa, Dr. Daniel Carvalho e a filha do Sr. Jacob Benemond, homenageado “post mortem”. Medalha Mérito Tamandaré Segundo Arthur Oscar Saldanha da Gama, em A Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial p.112: O Olinda navegava às 12h30min do dia 18 de fevereiro de 1942, na posição de 36 56’N e 37 30’W, na costa da Virgínia, Estados Unidos, sendo denunciado por aeronave espiã, que deu a sua rota, velocidade e posição ao U-432, do Capitão-Tenente Heinz-Otto Schultze, o mesmo que havia torpeado o Buarque. A nave veio, antes, à superfície, mandando o mercante parar. Em seguida, limpo e bem manobrado, como havia bom tempo, atracou no costado, chamando ao seu convés o Comandante do mercante, Sr. Jacob Benemond, que se fez acompanhar do 2° Telegrafista com os papéis de bordo. Os oficiais do submarino, polidamente, interrogaram-nos em inglês fluente e fotografaram os papéis do navio. O comandante, que dava ordens aos seus homens em alemão, mandou de volta os brasileiros com a ordem de abandonar o navio e, depois, desatracou com facilidade. Esperou que todos embarcassem nas baleeiras, que foram arriadas e, a tiros de canhão, pôs a pique o Olinda. A tripulação de 46 homens, foi salva pelo USS Dallas. O Olinda era o ex-Kanemer-land e ex-Cara, inglês, agora da Carbonífera Rio-Grandense, afretado à Cia. Comércio e Navegação. Levava para Nova Iorque 53.400 sacos de cacau, sacas de café e de mamona. Deslocava 4.086 t brutas e 2.532 líquidas, comprimento 109,7 m boca 15,31 m, pontal 7,62 m, calado 6,30 m e velocidade 9 nós. Salvaram-se os 46 homens da tripulação. Compilado de O Brasil e a Segunda Guerra Mundial, Ministério das Relações Exteriores. Três dias depois, nas proximidades da mesma área, outro navio nosso foi atacado, em pleno dia, às 12h30min de 18 de fevereiro, por um submarino nazista, do tipo de bolso, sem prévio aviso; a vítima fôra o vapor Olinda, de 4.085 toneladas brutas de deslocamento, da Companhia Comércio e Navegação, fretado a Companhia Carbonífera Rio-grandense, que navegava para Nova Iorque, procedente de Santa Lúcia, prossessão britânica, nas Pequenas Antilhas, de onde havia partido na tarde do dia 9, sob o comando do Capitão Jacob Benemond. O submarino, usando um canhão de pequeno calibre, fez 14 disparos contra o navio, sendo que apenas três projéteis atingiram o alvo, desmantelando a antena e a estação radiotelegráfica. Duas baleeiras foram arriadas ao mar com os 46 homens da tripulação. Quando essas estavam razoavelmente afastadas do navio, o submarino aproximou-se das baleeiras e homens de sua guarnição exigiram a presença do comandante e do radiotelegrafista, aos quais os oficiais alemães inquiriram sobre os documentos de bordo, a natureza da carga, bem como, por segurança própria, se haviam, tido tempo de emitir pedido de SOS. Tiraram duas fotografias, uma dos náufragos nas baleeiras e outra do Comandante e do radiografista a bordo do submarino, quando da entrevista. Em seguida, após o retorno às baleeiras, foi novamente o Olinda alvejado pelo submarino, de uma distância de um quarto de milha, que disparou cerca de 20 tiros contra o navio, que, embora bastante adernado, levou aproximadamente uma hora para ir ao fundo. A nacionalidade alemã do submarino agressor foi perfeitamente identificada, não só pelo comandante do Olinda, como por diversos de seus homens. Ao sangue-frio, a habilidade e energia do comandante, deveu-se o salvamento de todos os 46 homens da tripulação nesta triste conjuntura. Aparecendo no local 4 aviões norte-americanos da defesa coteira, o agressor submergiu e desapareceu; um dos aviões comunicou aos náufragos help on way, nessa ocasião deviam estar cerca de 40 milhas da costa do Estado de Virgínia, nos Estados Unidos. Vinte horas após o desastre, mais ou menos às 8h do dia seguinte, apontou no horizonte do destróier norteamericano Dallas, que recolheu os tripulantes e os transportou para a base naval de Newport, na Virgínia. No dia 20, o Governo brasileiro, devidamente informado de ambas as ocorrências, enviou uma nota ao Governo alemão, por intermédio de Portugal, protestando contra os torpedeamentos dos navios Buarque e Olinda, que navegavam fora da zona de bloqueio, fartamente iluminados, permitindo serem facilmente reconhecidas as bandeiras que traziam. Em março, duas outras ocorrências vieram aumentar as nossas perdas. Na primeira foi vítima o cargueiro Arabutan, ex-Caprera, com 7.874 toneladas de registro, de propriedade de Pedro Brando, a serviço do Lóide Nacional S.A. e sob o comando do Capitão de longo-curso Aníbal Alfredo do Prado. Havia partido às 16 horas do dia 6 de março de Norfolk para o Rio de Janeiro, com escala em Port Of Spain, Trinidad, transportando 9.613 toneladas de carvão para a Estrada de Ferro Central do Brasil. Às 15h10min do dia seguinte, este, nas proximidades do Cabo Hatteras, foi inopinadamente torpedeado por um submarino nazista, sendo atingido na altura do porão número cinco do lado boreste, afundando por água aberta, em vinte minutos, a 81 milhas da costa, no ponto de coordenadas 35 15’N e 73 50’W, de Gr. Na emergência, o comandante determinou a expedição dos sinais de socorro e deu-se início à faina de salvamento. O submarino, segundo o primeiro-piloto, devia ter 800 toneladas de deslocamento, com cerca de 60 metros de comprimento, estava armado com um canhão de 75 mm na proa e uma metralhadora antiaérea à ré; tinha o casco pintado de verde- garrafa e, pelas fotografias exibidas em Norfolk, por acasião do inquérito, foi reconhecido como de nacionalidade alemã. O atacante, que não fora pressentido pela tripulação, só veio à tona quando o pessoal já se encontrava nas baleeiras e o navio havia soçobrado completamente; sem hostilizar os náufragos nem procurar obter qualquer informação, descreveu um círculo em torno do ponto de afundamento e submergiu, possivelmente em face da aproximação de aviões da Marinha norte-americana, que aténdiam ao pedido de socorro, lançado... História Naval Brasileira, p. 342, editado pelo Serviço de Documentação Geral da Marinha. No torpedeamento desse navio, aconteceu um fato estranho, segundo relato do comandante: às 19h30min um avião sobrevoou o navio para iluminá-lo. Hoje, sabe-se que os alemães tinham uma aeronave espiã, com base em território norte-americano para guiar os submarinos. Quinze minutos antes de 1h do dia 16, Buarque recebeu o primeiro torpedo. Em seguida e após o regresso às suas respectivas baleeiras do Comandante e do 2º telegrafista foi o Olinda novamente alvejado. Cerca de 20 projéteis foram então disparados contra o navio, que adernou e rapidamente submergiu. Nem o comandante, que já havia servido na linha de Hamburgo, nem o 2º telegrafista, nem os demais telegrafistas do Olinda ofereceram dúvidas quanto à nacionalidade do submarino, unânimamente reconhecido como sendo alemão. Há divergências, entretanto, com relação à posição do navio no momento do ataque, o que se deve certamente à inexperiência do 2º piloto que se encontrava de quarto. Segundo os seus cálculos a posição seria: Latitude, 36 56’N e Longitude 74 02’ W. De acordo com o Comandante, entretando, a posição deveria ser, aproximadamente 37 30’N de latitude 75 00’W de longitude, posição corroborada pelo 1º piloto e pelas estimativas das autoridades americanas. Mais ou menos 20 horas depois do ataque, ou cerca das 8 horas do dia seguinte, foi a tripulação do navio brasileiro socorrida pelo destróier americano Dallas, que a levou para a Base Naval de Newport News, Norfolk, Virgínia. Washington, em 24 de Fevereiro de 1942 J. Carneiro Leão Correspondência recebida do Consulado do Brasil em Norfolk - 28 de Fevereiro de 1942 Senhor Ministro, Em obediência às ordens contidas no telegrama nº 4 dessa Secretaria de Estado, tenho a honra de passar as mãos de Vossa Excelência, cópias fiéis das declarações prestadas pelos senhores, Comandante Jacob Benemond: Imediato, Manuel Pereira Gonçalves; Chefe de Máquinas Abílio Paulo de Azevedo; Piloto Rosauro de Almeida; Piloto de quarto, José da Costa Dutra; Radiotelegrafista de quarto, Francisco Lustosa Nogueira; Marinheiro Álvaro Gustavo dos Santos e Marinheiro Manuel Bispo da Cruz, do vapor brasileiro Olinda, afundado no dia 18 do corrente, na Costa da Virgínia. Das declarações em questão, depreende-se ter sido o referido vapor atacado por um submarino alemão, sem prévio aviso; na posição estimada de latitude 36 30’00’’ Norte e longitide 75 00’00’’ Oeste, às 12,30 horas do dia 18 de fevereiro de 1942, e posto a pique com cerca de vinte tiros de peça. Ao sangue frio, habilidade e energia do Comandante e Imediato, deve-se o salvamento das quarenta e seis pessoas que compunham a tripulação do Olinda. Aproveito o ensejo para reiterar a Vossa Excelência os protestos da minha respeitosa consideração. J. A. Rodrigues Martins Anexo 1: Eu, abaixo assinado, Comandante do Vapor Olinda, brasileiro, de propriedade da Companhia Carbonífera Rio Grandense, fretado à Companhia Comércio e Navegação, sinistrado no dia dezoito do corrente mês, às doze horas e trinta minutos, na Costa da Virgínia, Estados Unidos da América do Norte, declaro ao cônsul do Brasil, em Norfolk o seguinte: Que o vapor partiu do último porto de Santa Lúcia, na tarde do dia 9, do corrente mês, com destino ao porto de Nova York; a essa hora acima ouví um tiro de canhão, sendo em seguida verificado pela popa do navio, um submarino que continuava atirando, cerca de quatorze tiros, tendo atingido o navio três tiros, sendo um na altura da radiotelegrafia, outro no alojamento da guarnição de proa e outro no costado. Imediatamente parei o navio e dei sinal para a salvatagem, isto é, o acidente deu-se na latitude 37 graus, trinta minutos norte, e longitude, sesenta e cinco graus, (o) zero minutos, oeste de Greewinch. Às doze horas e quarenta minutos, arriou-se a baleeira número dois (2), com 23 tripulantes e as doze horas e cinquenta minutos, a de número um (1), com a mesma quantidade de tripulantes. Fomos intimados pelo Capitão do submarino para atracar ao costado do mesmo, sendo eu interrogado pelo dito Capitão, sobre o manifesto da carga, porém eu respondi que o manifesto se achava a bordo. O 2º Rádio também surgiu e foi interrogado. Depois de curto tempo, voltamos para as baleeiras, tendo em seguida o submarino dado marcha até que se aproximou do Olinda, cerca de um quarto de milha, tendo disparado cerca de vinte tiros, adernando em seguida e posto a pique. Tenho a declarar mais que o submarino e sua guarnição, são alemães. Passamos nas baleeiras, vinte horas, quando fomos salvos por um destroier Americano, e logo que chegamos, em Norfolk, fomos hospitalizados no Hospital da Marinha. Jacob Benemond - Comandante.


 
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