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Samuel Kicis, Samuel Miller e Samuel Safker

Samuel Kicis A carreira exemplar de um soldado brasileiro de fé mosaica* corria o ano de 1944. Leda, uma menina de 7 anos no colo da mãe assistia da varanda da sua casa em Deodoro, a beira da linha da Central do Brasil, o lento e constante desfilar do imenso comboio de vagões rolando sobre os trilhos, carregando as tropas prontas para o embarque no Cais do Porto, onde os navios americanos de transporte aguardavam, junto com a nossa Marinha de Guerra que faria a escolta até Gibraltar. As tropas vinham da Vila Militar e de Minas. Mesmo no inverno, o sol do Rio de Janeiro já era quente de manhanzinha, bem diferente da Itália gelada para onde o pai de Leda estava iniciando uma longa viagem naquele trem, a viagem que não para todos teria retorno. Com seus olhinhos de menina esperta, Ledinha conseguiu divisar o pai a distância, na janela do trem. Assim, com as bençãos infantis da filha, o jovem Capitão de Artilharia Samuel Kicis, Comandante da 2ª Batéria do 4º Regimento de Obuses 155, seguiu para o front, junto com os seus soldados. Samuel vinha de longe. Seus pais, Isaac e Bertha Kicis nasceram e cresceram na Bessarabia, hoje Moldávia, região entre a Romênia e a Rússia.Havia dezenas, centenas de pequenas cidades onde floresciam pequenas, médias médias e grandes comunidades judaicas. Um mundo que acabou... Uma terra que amargava séculos de dominação estrangeira, pelos russos, pelos prussianos e onde a minoria judaica alternava períodos de tranquilidade com a perseguição injustificada. Pogrom... palavra russa que significa chacina... de judeus. Em 1903, ali mesmo, em Kishinev, uma cidade central da Bessarabia, houve um pogrom. Um jovem poeta estava ali, viu e escreveu “A Cidade do Massacre” em homenagem às vítimas inocentes. Haim Nahman Bialik (1873-1934). Poeta. Judeu nascido na Rússia. Falecido em Tel Aviv, que mais trade viria a ser conhecido como o Poeta Nacional de Israel. A profunda e emotiva descrição do poeta Bialik do sofrimento inimaginável torna-o extraordinariamente apropriado para recordar Auschwitz. “Que fazes aqui, filho do homem? Levanta-te, foge para o deserto! Leva para lá contigo o cálice de desgosto! Levai a sua alma, rasga-a em mil retalhos! Com raiva impotente, com coração deformado! Verte a tua lágrima sobre rochas áridas e manda o seu grito amargo à tempestade! Era um prenúncio do Holocausto, que estava por vir. Não surpreende portanto que tantos tenham decidido partir. Os Kicis descendem do Rabino Ze’ev Wolf Kitzes, que viveu no séc. XVIII. A grafia experimentou evoluções ao longo dos séculos, bem como novos ramos se incorporaram: Kitces, Keces, Keses, Kitzes, Ketzis, Kitzis, Kicis, Kitsis, Kitses,Charest, Pearson, Gordon, Westheimer, Greenwald, Simon, Rohr, Dunsky. Os Kicis ouviram falar do Brasil. Um pais de onde diziam haver tantas riquezas, até pedras preciosas restavam penduradas nas árvores. Uma terra abençoada, onde vivia um povo alegre, lúdico e musical, com fartura de terra e água, o sol brilhando o ano todo, onde seriam bem recebidos por um povo hospitaleiro, descendente dos índios, dos negros escravos e dos portugueses, e que por isso mesmo não discriminava ninguém. Todos tinham uma oportunidade e o sol nascia para todos. A viagem foi penosa. Reunindo os poucos pertences que podiam levar, despediram-se dos familiares, que jamais iriam rever, iniciando a viagem para a nova terra prometida. Como a maioria dos imigrantes, iam de terceira classe, porque não havia a quarta... Não era raro que crianças e idosos não resistissem a bordo. Os pais se desesperavam ao ver o pequeno corpinho sendo lançado ao mar. Queriam ir juntos, quase enlouquecidos, era preciso que os amigos os segurassem para que não pulassem a amurada. Mas o futuro iria sorrir para aquela gente, apesar de tudo com o coração cheio de esperança. Ao atravessar a entrada da barra na Baia da Guanabara, só de olhar a paisagem já gostaram daquela terra, e entre lágrimas de saudade da família distante, prometiam a D'us e a si mesmos que tudo fariam para honrar a confiança que a nova pátria lhes depositava, tudo fazendo para serem bons brasileiros, criando os filhos, trabalhando e estudando por um Brasil melhor. Do convés, os passageiros se admiravam com o cordão de fortalezas em volta da barra. Copacabana, Duque de Caxias, Santa Cruz, São José, São João, São Luiz, Pico, e a última, já numa pequena ilha dentro da baia, a Fortaleza da Lage, que seria a última barreira a repelir o inimigo invasor. Era sinal de que o povo era hospitaleiro, mas desde a época das caravelas saberia defender-se, se necessário fosse. O jovem casal Kicis talvez não acreditasse se lhe dissessem que o primeiro filho um dia estaria a postos numa daquelas fortalezas, como Oficial da Artilharia de Costa... E foi isso que aconteceu. Bertha e Isaac tiveram 4 filhos, Fany, Olga, Mauricio e Samuel. Ao desembarcarem no mesmo Cais do Porto jamais imaginariam que um dia o Todo Poderoso haveria de lhes conceder a graça de ter dois filhos homens, e que eles seriam Soldados Brasileiros, um deles havendo de embarcar ali mesmo, para navegando pelos mesmos mares mas no caminho de volta, lutar pela liberdade e pela democracia. E o outro, Mauricio, também artilheiro, viria a ser admitido ao Magistério Militar, por muitos anos lecionando francês no Colégio Militar. Os primeiros tempos foram duros. Trabalho árduo, de sol a sol, fazendo jus ao ditame bíblico, de ganhar o sustento com o suor do próprio rosto. A família morava em São Cristóvão, onde Samuel nasceu na véspera de Pessach, em 15 de abril de 1913 e estudou no Colégio Pedro II. O menino Samuel era estudioso e morando no subúrbio, cresceu observando a movimentação das tropas dos quartéis próximos, os comboios, o tropel da Cavalaria, os canhões ainda de tração hipomóvel. Daí para a Escola Militar foi um passo. Aprovado no difícil concurso de seleção, Samuel tornou-se um Cadete do Realengo, usando com orgulho a cintura o espadim, a miniatura do sabre invicto de Caxias. Praça de 8 de abril de 1930, como aluno do 3º Ano do Curso Anexo a Escola Militar do Realengo. Optou pela Arma dos fogos largos, profundos e poderosos, tendo sido declarado Aspirante a Oficial de Artilharia em 25/jan/1934. Os velhos retratos amarelados demonstram a alegria dos pais imigrantes. Seu filho Samuel, um Oficial, do Exército de Caxias, da Artilharia de Mallet, envergando com garbo o Primeiro Uniforme, na cerimônia a que compareceu o Presidente da República. Ali começava a carreira exemplar de um Soldado Brasileiro de fé mosáica, e que duraria quase 33 anos. Designado para a Guarnição do Distrito Federal, foi mandado servir no histórico quartel do Forte de Campinho, que naqueles tempos sediava o 1º Grupo de Artilharia de Dorso, foi logo promovido a 2º Tenente aos30/ago/1934. Naquela época a Artilharia era hipomóvel, ou seja, as peças eram tracionadas por muares. Assim, as unidades de artilharia muito se assemelhavam as da Nobre Arma Ligeira, a Cavalaria. Tinham baias, veterinários, enfim, tudo que fosse necessário. Os canhões Krupp 75 eram as peças mais utilizadas, deslocando- se nos exercicios e nos desfiles lenta e seguramente, daí a tropa de artilharia seguir uma cadência diferente das demais, como o demonstra o rítmo peculiar da Canção da Artilharia. Aos 29 de novembro de 35, Kicis teve de interromper as férias devido aos acontecimentos que se desenrolavam na capital, tendo participado do contra-ataque aos rebeldes da Escola de Aviação Militar. Em 24/01/1936 Samuel casou-se em Nictheroy com Da. Ruth do Couto Pfeil, a filha do Gen João Eduardo Pfeil. O padrinho de casamento foi o Gen Alcio Souto, que era amigo do Gen Pfeil. Promovido a 1º Tenente aos 7 set 1936, foi transferido para o I Regimento de Artilharia Montada, na Vila Militar. Entre diversos elogios que constam da sua filha funcional, destacamos aquele lavrado aos 19 de janeiro de 1937, pelo General de Divisao Eurico Gaspar Dutra, ao deixar o Comando da I Regiao Militar: “... apraz-me manifestar meus agradecimentos ao 1º Ten Kicis, que foi meu collaborador, pela capacidade de trabalho e inteligência. Outras comissões se seguiram, em João Pessoa no 4º G A Do, 3ª Bia AC Forte do Imbuhy em Nictheroy, 3º G A Do de Campo Grande – MT, Em 10 de novembro de 37 foi decretado o Estado Novo, sem a participação da AIB no governo. Integralistas como Olbiano de Melo, Belmiro Valverde e Gustavo Barroso, ao lado de oficiais da Marinha, no dia 11 de maio de 1938, promoveram uma tentativa insurrecional. Sob o comando do tenente Severo Fournier, um grupo atacou o Palácio Guanabara, residência presidencial, com a finalidade de depor Vargas. O General Dutra, ministro da Guerra, soube por telefone, e como morava no Leme, dirigiu-se ao Forte Duque de Caxias, onde requisitou uma tropa de 12 homens, comandada por um jovem tenente, dirigindo-se ao Palácio, onde salvou o Presidente. Quis o destino que naquele dia estivesse de serviço o Tenente Samuel Kicis. É fácil supor o que teria acontecido se outro oficial, de idéias integralistas, ali estivesse. Possivelmente a História do Brasil não tivesse sido a mesma. O Grande Arquiteto do Universo nos conduz por caminhos nem sempre claros. Não seria a primeira vez que um brasileiro judeu entrava na história de Getúlio. Plínio Salgado acabou seguindo em 1939 para um exílio de seis anos em Portugal e Kicis foi promovido a Capitão aos 25 ago 1941. No ano seguinte, o Brasil haveria de declarar guerra aos paises do Eixo. Era a resposta aos torpedeamentos de navios mercantes inocentes ao longo da nossa costa. Hitler havia decidido se vingar da ajuda brasileira ao esforço de guerra, mandando aqui seus submarinos U-boat. Mas a nascente Aviação de Patrulha da FAB contra-atacou, conseguindo afundar alguns submarinos e quando a Marinha do Brasil passou a escoltar os combois, já não houve mais perdas. O Brasil era um país eminentemente agrícola. Nem se sonhava com a infraestrura e o parque industrial que temos hoje, as quais ainda iriam ser planejadas e construidas anos mais tarde. Mesmo assim, um esforço nacional supremo nos capacitou a enviar para a Itália a primeira de 3 Divisões de Infantaria Expedicionária, formando a FEB – Força Expedicionária Brasileira, um Grupo de Aviação de Caça, e guarnecer o nosso litoral com a Marinha do Brasil. Foram só na FEB 25 mil homens, dos quais quase 500 não voltaram, além de outros milhares nas tripulações dos navios de guerra e mercantes, e centenas de aviadores e pessoal de terra. Segundo o Mein Kampf, o III Reich deveria durar 1000 anos. As populações polonesas, russas e outros eslavos seria transformadas em escravos dos arianos, sem nenhum direito a não ser trabalhar para a Alemanha. Os judeus, ciganos, comunistas, homossexuais e deficientes físicos e mentais nem esta sorte teriam. Deveriam ser impiedosamente exterminados nas câmaras de gás, a fim de que só restasse a “raça pura”. Os brasileiros, também considerados uma raça inferior de mestiços, e os africanos, seriam explorados quando chegasse a sua vez, apenas fornecendo matérias primas e deixados a própria sorte para morrerem como moscas. Dentro deste quadro tenebroso, custa a crer que houvesse, e lamentávelmente ainda há no Brasil, embora microscópicas, ideologias pro-nazistas, grupelhos minúsculos. Se o Afrika Korps não tivesse sido destroçado em El Alamein e a Alemanha conseguisse estender seus tentáculos para o outro lado do Atlântico, iriamos ter aqui no Brasil a desgraça de conviver com traidores. Infelizmente surgiriam novos Calabares, novos Joaquim Silvério dos Reis. Mas não foi isso que aconteceu, neste pais que o grande escritor Stefan Zweig, também ele vítima do nazismo, definiu profeticamente em 1942, como o País do Futuro, raciocínio este que agora é ratificado pela CIA, ao prever que o Brasil junto com China, India e Indonésia podem vir a tornarem-se potências mundiais em 15 anos. Itália Samuel embarcou para a Itália em 19 set 1944, desembarcou na Itália já sob o frio inclemente do inverno europeu. Logo sua Batéria foi enviada para a frente de combaté. A Artilharia da FEB era comandada pelo General Cordeiro de Farias e receberam diretamente na Itália vindo dos Estados Unidos os obuseiros de 105 e 155 mm, naquela época os mais modernos, de que ainda não dispunhamos no Brasil. O Comandante do IV Grupo era o então Ten Cel Hugo Panasco Alvim. Conforme Germano Seidl Vidal, 2º Tenente: “... em 15 de maio de 1944, fui designado Comandante da Linha de Fogo da 2ª Batéria do então I Grupo do 1º Regimento de Artilharia Pesada Curta (Grupo Escola) - I/1º RAPC (GE), função na qual permaneci durante toda a participação do IV Grupo de Artilharia 155mm na Campanha da Itália, somente sendo desligado dessa função quando transferido, por necessidade do serviço, já no Brasil, em 10 de janeiro de 1946. [...] O primeiro tiro da Artilharia brasileira jamais disparado fora do continente americano ocorreu as 1423 de 15 jul 1944. Samuel comandou cerca de 200 homens, e ocupou por inúmeras vezes os observatórios avançados do Grupo, junto as primeiras linhas da Infantaria, em pontos considerados extremamente perigosos. Sua batéria se destacou em qualidade nas operações e nos objetivos alcançados. Da sua folha de serviços constam inúmeros elogios individuais e coletivos, destacando especialmente sua inteligência privilegiada e a capacidade de comando e organização com que se houve a frente da 2ª Batérias de Obuse 155. Suas promoções ocorreram sempre por merecimento: Major – 25 set 1948 Ten Cel – 25 abr 1953 Cel – 25 ago 1961 Realizou diversos cursos sempre com excelente aproveitamento, a saber: 1941 - Escola de Artilharia de Costa, menção Excelente (grau 9,6); 1947 - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, conceito Muito Bem (grau 9,9); 1948 - Curso de Guerra Química na Chemical Corps School (USA), nota 10,0; 1952 – ECEME, menção B; 1957 – Escola de Guerra Naval Da sua folha de serviços neste período, verificamos ser plena de elogios, inclusive de superiores que um dia se tornariam Presidentes da República, como o na época Comandante do Núcleo da Divisão Blindada, o General Arthur da Costa e Silva. “....elogio o Ten Cel Kicis que integrou o meu Estado Maior, pela capacidade de ação, inteligência, dinamismo e garbo, destacado oficial de Estado Maior ...” A 21 de set 1953 seu pai deixa este mundo, tendo labutado anos e anos a fio, deixando 3 filhos. Samuel serviu em seguida no EME com outros destacados oficiais, como os então Cel Ademar de Queiroz, que viria no futuro a ser Presidente da Petrobrás, e Cel Aurélio de Lyra Tavares, que veio a ser Ministro da Guerra e imortal da ABL, Coronel Adalberto Pereira dos Santos, futuro VP da República. Aos 7 jan 1956 casamento de sua filha Leda Pfeil Kicis. Em 1957 foi mandado a Pouso Alegre – MG onde exerceu o sub-comando do 8 R A 75 Mont. Medalhas Pelo seu comportamento exemplar durante a Campanha da Itália, foi condcorado com a Cruz de Combaté de 2ª Classe. No Diploma, assinado aos 6 de março de 1961 pelo Ministro da Guerra Marechal Odilio Denys pode se verificar que ele esteve exposto ao fogo inimigo por muitas vezes ao situar-se no posto de observação avancada que acompanhavam o tiro da artilharia, conquistando elogios pelo seu espírito de sacrificio, pela assistência que dava a seus comandados, conduzindo a sua batéria em todas as situações com calma e coragem. A Medalha de Campanha lhe foi concedida pelo Diploma assinado aos 25 de março de 1949 pelo Ministro da Guerra Gen Canronert Pereira da Costa, por ter participado de operações de guerra na Itália. Foi também concecorado com a Medalha do Pacificador, e com a Medalha de Ouro aos 30 anos de serviço. Epílogo Por decreto de 20 out 1961, o Presidente da República promoveu o Coronel Samuel Kicis ao posto de General de Brigada, e na inatividade, elevou-o ao posto de General de Divisão, contando 32 anos, oito meses e 3 dias de efetivo serviço, dos quais 7 meses e 20 dias de Campanha na Itália e 6 meses de licença especial não gozada. Samuel faleceu no Rio de Janeiro em 1984, ao 71 anos. Este breve relato não poderia terminar sem que ressaltassemos o importante papel das Forças Armadas, instituição nacional única e integradora da alma brasileira, onde se funde a nossa nacionalidade multi-racial. Nas Forças Armadas, convivem lado a lado o filho do rico e o filho do pobre, o negro, o índio, e o branco, o católico, o espírita e o judeu. No momento em que vestem a honrosa farda verde oliva tornam-se todos iguais, companheiros, irmãos de armas, com as mesmas oportunidades que teve um jovem filho de emigrantes de terras remotas, a quem ora prestamos a maior homenagem que poderia receber pela sua carreira exemplar, o melhor elogio que poderia merecer: General Samuel Kicis: Foi um soldado brasileiro. Sala General KICIS na EsAO A Semana da Pátria de 2008 começou auspiciosamente para a Comunidade. Já na segunda feira dia 1° a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais na Vila Militar inaugurou uma placa e retrato dando o nome do General de Divisão Samuel Kicis a sala de aula do Curso de Artilharia, em homenagem ao herói da FEB que como capitão comandou uma Batéria no front italiano. Estiveram presentes a filha e neta, Da. Leda Kicis e Da.Lucia Kicis, o General Abreu, comandante da EsAO e o Diretor de Cidadania Israel Blajberg. Na tradicional escola fundada em 1919 ao tempo da Missão Militar Francesa, a Casa do Capitão, por onde anualmente passam 500 capitães-alunos como pré-requisito para promoção aos postos superiores, a Sala de Aula do Curso de Artilharia passa a ostentar a denominação histórica de Sala General de Divisão Samuel Kicis. Na parede, o texto em moldura, ao lado do retrato do jovem Cap Kicis, alusivo à inauguração da denominação histórica, é motivo de orgulho para a Comunidade Judaica. Em 1943, o entao Cap Kicis servia em uma unidade que nao iria para a guerra. Solicitou então transferência para uma unidade prevista para embarcar para a Italia integrando a FEB - Força Expedicionaria Brasileira. Fez isso por estar determinado a lutar contra o nazismo. Na ocasião o Comandante da EsAO, General de Brigada José Alberto da Costa Abreu, que aniversariava neste dia, recordou seu pai, também ex-combaténte da FEB onde foi Cabo Chefe de Peça, familar com os fogos da Artilharia pesada que tanto sobressaltavam a tropa. o General assim se referiu ao Cap Kicis: “Figura insigne da nossa Artilharia, deixou seu nome gravado na História. Nome bem escolhido pelos Curso, muito pertinente, por tudo que realizou.” O Comandante do Curso de Artilharia, Tenente Coronel Claudio Vasconcellos Santos saudou os familiares com uma bela oração. Foi uma singela e tocante homenagem a um dos mais destacados integrantes da Comunidade Judaica, Gen Samuel Kicis, magnífico exemplo de Patriota e Soldado Brasileiro, da Artilharia de Mallet, do Exército de Caxias. Seguem-se o texto do pronunciamento do Comandante do Curso de Artilharia da EsAO, Ten Cel Claudio Vasconcellos Santos, e o texto da Placa Alusiva a Denominação Histórica da Sala de Aula do Curso de Artilharia, Sala General de Divisão Samuel Kicis.

SOLENIDADE DE INAUGURAÇÃO DA SALA 01 – 01 SET 08

EXMO SR GEN BDA JOSÉ ALBERTO DA COSTA ABREU, COMANDANTE DA ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS. SR CORONEL VILEMAR , SUB CMT ESAO. SR CEL VIANNA PERES, CHEFE DA DIVISÃO DE ENSINO DA ESAO. SENHORA LEDA, FILHA DISTINTA DO NOSSO HOMENAGEADO. TEN ISRAEL BLAJBERG, OFICIAL DA RESERVA, E BIÓGRAFO DO HOMENAGEADO. SENHORES OFICIAIS INSTRUTORES. MEUS PREZADOS OFICIAIS ALUNOS DO CURSO DE ARTILHARIA 2008. BOM DIA! MINHAS PALAVRAS INICIAIS NÃO PODERIAM DEIXAR DE SER DE AGRADECIMENTO. AGRADECIMENTO SIM A DEUS QUE NOS CONCEDEU A OPORTUNIDADE E A LUZ PARA QUE VIÉSSEMOS A HOMENAGEAR O GEN DIV SAMUEL KICIS, ATRIBUINDO O SEU NOME A SALA 01 DO CURSO DE ARTILHARIA DA ESAO. / NO CORRENTE ANO, OS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO DO EXÉRCITO RECEBERAM A INCUMBÊNCIA DO DEPARTAMENTO DE ENSINO E PESQUISA PARA QUE HOMENAGEASSEM VULTOS HISTÓRICOS DE NOSSO PAÍS, CONCEDENDO A DENOMINAÇÃO ÀS RESPECTIVAS SALAS DE AULA. / DESSA FORMA, NO ÂMBITO DO CURSO DE ARTILHARIA DA ESAO, EXPEDIDOS A DIRETRIZ DE HOMENAGEAR EMINENTES ARTILHEIROS QUE TENHAM SE DESTACADO NOS POSTOS DE CAPITÃO, APRESENTANDO EXEMPLOS DE HEROÍSMO, DEDICAÇÃO AO EXÉRCITO E INTENSO PATRIOTISMO. APÓS UMA PESQUISA REALIZADA POR OFICIAIS ALUNOS E INSTRUTORES, FORAM SELECIONADOS PARA A SALA 01, O NOME DO GEN KICIS, E PARA A SALA 02, O DO MARECHAL JOÃO THOMAZ DE CANTUÁRIA. NESSE INSTANTE EM QUE REALIZAMOS A SOLENIDADE OFICIAL DE ATRIBUIÇÃO DO NOME DO GEN KICIS À SALA 01, PERMITAM-ME COMPLEMENTAR AS PALAVRAS DO NOSSO OFICIAL – ALUNO, NO TOCANTE AOS FEITOS DO HOMENAGEADO. CONFORME AS PALAVRAS DO TEN BLAJBERG, O ENTÃO CAPITÃO KICIS, COMANDANTE DA 2ª BAtéRIA DE OBUSES ORGÃNICA DO ATUAL 11º GAC – GRUPO MONTESE, DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL,“ ...OCUPOU POR INÚMERAS VEZES OS OBSERVATÓRIOS AVANÇADOS DO GRUPO, JUNTO ÀS PRIMEIRAS LINHAS DA INFANTARIA, EM PONTOS CONSIDERADOS EXTREMAMENTE PERIGOSOS...” APÓS A GUERRA, EM RAZÃO DE SUA ELEVADA CAPACIDADE PROFISSIONAL, O GEN KICIS VEIO A RECEBER REFERÊNCIAS ELOGIOSAS DE EMINENTES PERSONAGENS HISTÓRICOS DO PAÍS, PODENDO SER CITADOS OS MARECHAIS ODILIO DENYS, EX-MINISTRO DA GUERRA E O MARECHAL ARTHUR DA COSTA E SILVA, EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA. DISTINTA SENHORA LEDA: SAIBA, NESSE MOMENTO, QUE TODOS NÓS AQUI NA ESAO ESTAMOS COMPARTILHANDO COM A SENHORA A EMOÇÃO E O ORGULHO DE VER NOME DO SEU TÃO ILUSTRE GENITOR ATRIBUÍDO A NOSSA SALA 01 DO CURSO DE ARTILHARIA. A PARTIR DE AGORA, NOSSOS OFICIAIS ALUNOS E INSTRUTORES PASSARÃO TER, NA MEMÓRIA DO GEN KICIS, UM EXEMPLO CONCRETO DE AMOR À NOSSA PÁTRIA E UM MODELO PLENO DE OFICIAL DE ARTILHARIA, DIGNO REPRESENTANTE DAS MAIS CARAS TRADIÇÕES DA NOSSA ARMA. ASSIM, NESSE MOMENTO TÃO REPRESENTATIVO PARA NÓS NO DIA DE HOJE, AGRADEÇO A PRESENÇA DE TODOS, E CONCITO-OS A MEDITAR EM TODOS OS FEITOS DO NOS154 SO HOMENAGEADO. HOJE TAMBÉM, POR UMA FELIZ COINCIDÊNCIA DE DATAS, ESTAMOS COMEMORANDO O ANIVERSÁRIO DE NOSSO COMANDANTE DA ESCOLA, GEN ABREU, PORTANTO, COMO COMANDANTE DO CURSO DE ARTILHARIA, EM NOME DE TODOS OS INTEGRANTES DO CURSO, DESEJO À VOSSA EXCELÊNCIA MUITAS FELICIDADES PESSOAIS E PROFISSIONAIS, E QUE DEUS POSSA LHE CONCEDER SAÚDE, PAZ DE ESPÍRITO E INTELIGÊNCIA PARA PODER CONTINUAR A CONDUZIR OS DESTINOS DA NOSSA TÃO QUERIDA ESCOLA. E ELES QUE VENHAM! POR AQUI NÃO ENTRAM! MALLET ! BRASIL! MUITO OBRIGADO. Texto da Placa Filho de imigrantes judeus da Bessarábia (hoje Moldávia), o General Samuel Kicis nasceu em 1913 na cidade do Rio de Janeiro e concluiu o Curso de Artilharia da Escola Militar do Realengo em 1934. Fruto de seu excelente desempenho acadêmico foi designado para servir no histórico quartel do Forte de Campinho, sede do 1º Grupo de Artilharia de Dorso. Ao longo de sua brilhante carreira, realizou os seguintes cursos: Escola de Artilharia de Costa, Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Curso de Guerra Química na Chemical Corps School (USA), ECEME e Escola de Guerra Naval. Sua brilhante carreira militar é exemplo de uma trajetória marcada por heroísmo, patriotismo e dedicação ao Exército. Ainda como tenente participou do contra-ataque aos rebeldes da Escola de Aviação Militar, em 1935 na capital federal. Em 1937, comandou uma tropa de 12 homens no combaté aos integralistas que atacaram o Palácio Guanabara para depor Getúlio Vargas. O então Capitão Samuel Kicis embarcou para a Itália em 19 de setembro de 1944, para juntar-se aos aliados contra o eixo. Na Força Expedicionária Brasileira comandou, como Capitão, a 2ª Batéria do IV Grupo de Obuses 155mm, tendo em suas mãos cerca de 200 homens e o maior poder de fogo com que contava a Artilharia Divisionária da FEB. Exerceu a função de Observador Avançado em Torre di Nerone e no quarto e bem-sucedido ataque a Monte Castelo. Foi condecorado com a Cruz de Combaté de 2ª Classe, Medalha de Campanha, Medalha de Guerra, Medalha do Pacificador e Medalha Militar de Ouro. Dos 32 anos, oito meses e 3 dias de efetivo serviço prestado pelo General-de-Divisão Samuel Kicis, 7 meses e 20 dias foram de campanha na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial. O General Samuel Kicis faleceu no Rio de Janeiro em 1984, aos 71 anos.


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