Mauricio José Pinkusfeld, Melchisedech Affonso de Carvalho e Moises Gitz
Mauricio José Pinkusfeld 2º Comissário da Marinha Mercante. O único Herói Brasileiro Judeu da II Guerra Mundial que se sabe desaparecido em decorrência de operações bélicas. O Mar foi o Túmulo de um Jovem Sonhador In Memoriam 2 nov 1924 - 16 ago 1942 “... Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar. Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena...” Fernando Pessoa, cristão-novo e o maior dos poetas portugueses Os Hebreus possuem tradição de grandes navegadores, desde os marinheiros do Rei Salomão, que chegou a um lugar nas costas da África onde hoje fica a Etiópia, encantando-se pela Rainha de Sabbah, daí viverem hoje em Israel tantos de seus descendentes diretos, de lá saídos como refugiados. Possivelmente um gene remoto de um daqueles tripulantes que conduziram a Corte do Rei Salomão, adormecido per secula seculorum, despertou em pleno Séc XX naquele garoto sonhador da Tijuca, que secretamente admirava o garboso uniforme branco do cunhado, marido da sua irmã Amália, e pensava um dia vir a ser também um Oficial de Marinha. Mas quando uma criança nasce, o seu destino já foi traçado, e nada poderá mudá-lo. Para o cunhado Boris Markenson, o Grande Arquiteto do Universo reservara uma carreira que o levaria ao posto de Almirante. Entretanto, para o jovem Pinkusfeld a primeira dificuldade viria no exame médico, ainda que aprovado nas provas para a Escola Naval. Posteriormente, incentivado pelo cunhado Boris, ingressou na Marinha Mercante, classificado em 4º lugar, em fev/1941, mas a sua carreira lamentavelmente viria ser muito curta. Em dez/1941 conclui o curso e em jan/42 o Estágio a Bordo, recebendo a Carta de 2º Comissário. Já na segunda viagem, 16/ago/1942, o Aníbal Benévolo, do Lloyd Brasileiro, foi alcançado na popa e na casa de máquinas por dois torpedos do submarino nazista U-507, quando navegava de Salvador rumo a Sergipe; atacado sem prévio aviso as 4h15min da madrugada, foi ao fundo com incrível rapidez em menos de 2 minutos. Morreram afogadas 150 pessoas, sendo 83 passageiros e 67 tripulantes, quase todos ainda recolhidos a seus camarotes, onde encontraram a morte. Apenas o Comandante, o cozinheiro e mais outro tripulante se salvaram. O mundo desabou sobre o pai, Sam Pinkusfeld, e a Professora Bertha Abramant Pinkusfeld. Ela jamais se recuperou do golpe sofrido, a perda do caçula de 5 irmãos, o Buby. Dizia que quando um dedo dói, a mão toda dói. Somente encontrava algum consolo indo ao túmulo do pai, Mauricio Abramant, no Cemitério do Caju, onde fora enterrado em 1902. Ainda não havia cemitério judeu, e sim a ala dos judeus e protestantes. Ali buscava conforto chorando a morte do filho querido, que nem túmulo tivera, tendo que ser quase carregada de volta. Vindo da Prússia nas primeiras levas de imigrantes judeus do séc XIX, o patriarca Mauricio foi sempre lembrado, pois a tradição conservou seu nome nos netos, bisnetos, trinetos, tetranetos, gerando vários homônimos ao longo das décadas, inclusive conhecido Deputado pelo Rio de Janeiro. Não só de Portugal eram as lágrimas de que falava Fernando Pessoa. Um milhar de mães do Brasil também as verteram, pranteando filhos covardemente assassinados em nossos navios afundados pelos nazistas, chorando junto com a Professora Bertha, que ensinava piano no Conservatório de Villa Lobos. Mauricio se fora na flor dos seus 18 anos. A irmã Elza pouco depois do naufrágio o reviu em um sonho. Dizia estar em um lugar chamado Baia Negra, na costa de Sergipe. Próximo ao local do naufrágio. Por incrível, o lugar existia mesmo. Constava das cartas náuticas. A família esperançada se desdobrou enviando fotos e pedidos de informação para o lugar, ajudada pelo cunhado Boris, à época Capitão-Tenente. Mas de nada adiantou. Mauricio se fora para sempre. O cozinheiro que se salvara milagrosamente visitou a família, relatando como os nazistas metralharam impiedosamente os sobreviventes nos botes salva-vidas. O U-507 maldito afundou 7 navios brasileiros em 4 dias com perda de 607 vidas preciosas, de 15 a 19 de agosto de 1942, ao longo da costa de Salvador a Maceió, num total de 14.795 TDW. Diante do clamor popular, aos 22 de agosto de 1942, o Presidente Getúlio Vargas reconheceu o estado de beligerância entre o Brasil e os estados agressores do Eixo, a Alemanha e a Itália. Pode-se inferir portanto que foram estes atos de barbárie nazista de um submarino que determinaram a final o ingresso do Brasil na guerra. Em 13 de janeiro de 1943, um Catalina da F.A. Americana afundou o U-507 com bombas de profundidade a NE de Natal-RN. Todos os seus 54 tripulantes pagaram com a vida os crimes praticados contra navios mercantes indefesos. A Marinha Mercante arcou com as maiores perdas humanas brasileiras na Guerra, 975 mortos em 31 navios afundados. A Marinha do Brasil perdeu 468 homens em 3 navios afundados. A FEB teve 463 mortos, e a FAB, dado o contingente, um número comparativamente menor, 8 pilotos. A família nunca recebeu nada das Autoridades, nem da Comunidade Judaica, diante da enorme perda de seu filho querido, aventurando-se nos mares infestados de submarinos, para que o Brasil pudesse estar ligado de Norte a Sul, numa época em que não havia as estradas que temos hoje. Mas os verdadeiros bravos não temem, e sabem honrar o juramento que pronunciam com destemor ao graduar-se nas cerimônias de formatura: “... prometo cumprir rigorosamente...”. as ordens das autoridades a que estiver subordinado ... ... respeitar os superiores hierárquicos, ... ... dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria; cuja honra, integridade e Instituições, defenderei, com o sacrifício da própria vida !“ Mauricio foi o único caso até agora conhecido dos 42 ex-combatentes judeus que deu a vida pela Pátria em decorrência de operações bélicas, como tripulante de navio mercante a serviço do progresso do Brasil. Possivelmente uma pensão especial e uma medalha postmortem aguardaram todo este tempo em alguma repartição. Mas nada nunca foi requerido. Durante 63 anos sua história foi esquecida. Mas em 1º de maio de 2005, a memória daquele jovem brasileiro foi homenageada diante do Túmulo do Soldado Desconhecido, no Monumento aos Mortos da II Guerra Mundial no Atérro do Flamengo, Rio de Janeiro. A irmã Doroteia Lola Pinkusfeld Grossman, que tinha 11 anos quando Mauricio partiu para a viagem sem volta, última remanescente, conduziu a tradicional coroa de flores aposta diante da Chama Eterna, sob uma chuva de pétalas de flores . Sem ter tido sequer uma matzeivá (pedra tumular), o nome de Mauricio está eternizado no mármore do Monumento dos Pracinhas, junto com centenas de outros brasileiros sacrificados no Altar da Pátria, entre os quais também um Moisés, como a lembrar o nosso grande Patriarca. Melchisedech Affonso de Carvalho Nascido no dia 16/11/1928 em Fortaleza – Ceará, filho de Da. Dalila M. de Carvalho, descendente de índios tabajaras e do capitão do exército e pastor presbiteriano, Manoel Afonso de Carvalho. Fez o curso de grumete na E.A.M Almirante Batista das Neves em Angra dos Reis. Prestou serviços efetivos de operações de guerra em missão de comboio e patrulhamento, durante o período da 2° Guerra Mundial, quando embarcado a bordo do Destroier Bracui. Prestou ainda, serviços embarcando no Tender Ceará, Contra Torpedeiro Mariz e Barros e Destroier Bebebribe, Força de Contratopedeiros, e 1° Flotilha de Contra Torpedeiros. Trabalhou como Diretor Cultural da Associação dos Ex Combaténtes do Brasil Seção do Rio de Janeiro, Diretor de Patrimônio da Associação de Amigos da Marinha e Membro da The Royal British Legion e The British & Commonwealth Society of Rio de Janeiro. Tenente reformado, Melchisedech Afonso de Carvalho dedica-se ativamente a causa dos Veteranos, sendo assiduo nos eventos promovidos pela Marinha alusivos a memória dos ex-combaténtes. Foi Assistente da Presidente da Fundação Cultural, Educacional e Artística Maestro Eleazar de Carvalho, onde colaborou para divulgar a memória e obra do seu saudoso irmão, que também serviu à Marinha do Brasil, tocando tuba em diversas corporações e em 1928, já no Rio de Janeiro, estudando solfejo e harmonia e integrando a Banda dos Fuzileiros Navais. No ano seguinte, fez concurso para a Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Para prestar o concurso teve que sair da Marinha, que perdeu um músico, mas o Brasil ganhou o Grande Maestro Eleazar de Carvalho, a quem a música erudita no Brasil tanto deve. Regeu as principais orquestras do mundo e ensinou em grandes escolas americanas. Sempre voltou. Dizia: “meu lugar é aqui!” Melchisededch participou do 5° vôo de apoio da FAB à Operação Antártica - XXI PROANTAR, realizado em maio de 2003. Possui diversas condecorações, entre as quais Serviço de Guerra,Força Naval do Nordeste, Ordem Mérito Naval, Medalha Mérito Tamandaré, Medalha Mérito do Pacificador, Medalha de Mérito do Ex-Combaténte do Conselho Nacional da Associação dos Ex- Combaténtes, Medalha da Vitória da Associação dos Ex-Combaténtes do Brasil Seção do Rio de Janeiro, Medalha de Mérito Mascarenhas de Moraes, Medalha Amigo da Marinha, Honra ao Mérito Maçônico, Medalha Tenente Max Wolff Filho. Moises Gitz Moises nasceu em Cruz Alta – RS, aos 25 out 1925, filho de Firmina Silverston Gitz e Salomão Gitz. Moises estudou do Heder (escola judaica) e frequentava o Círculo Israelita de Porto Alegre, cidade onde residia. Na juventude era vendedor, até ser incorporado a FEB, como Cabo, tendo embarcado aos 08 fev 1945 integrando o CRP – Centro de Recompletamento de Pessoal e retornado em 17 set 1945 com o DP/FEB, Depósito de Pessoal da FEB, tendo sido licenciado em 02 out 1945. Seu Comandante foi o Coronel Arquimino de Carvalho. Pelo lado matérno Moises descende de escoceses e ingleses, sendo seus avós Moritz e Rachel Silverston. Seu bisavô era o Rabino Jacob Silverston, que no começo do século passado planejou o arruamento da cidade de Petach Tikva em Israel. Moritz trabalhava como gerente de uma fábrica, Watér- Pool, cujo proprietário era seu irmão. Moritz tinha idéias socialistas, e desentendimentos com o irmão em função de uma greve determinaram seu afastamento, tendo emigrado para a Argentina em 1880 e de lá para o Brasil em 1912. Moises veio a falecer em maio de 2012.