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Jacob David Cohen, Jacob David Niskier e Jacob Gorender

Jacob David Cohen Jacob nasceu aos 25 abr 1921, filho de David e Jamile Cohen. Freqüentava o Templo Sidon, tradicional sinagoga da rua Conde Bonfim na Tijuca , Rio, que congrega os descendentes dos judeus de Sidon, no Líbano, que emigraram há cerca de um século para o Brasil. O bairro reune boa parte da comunidade sefaradi carioca, ou seja, descendentes dos judeus de Espanha (Sefarad em hebraico). No ano de 1492 Madrid era ainda um pequeno povoado desconhecido. Na corte de Toledo, os reis católicos Fernando de Aragon e Isabel de Castilla haviam resolvido expulsar os judeus de Espanha. Numa última tentativa, o conselheiro real Isac Abravanel tenta reverter o decreto, sem o conseguir. Tangidos pela intolerância, os judeus de Sefarad se espalharam pelos quatro cantos do mundo civilizado de então. Abandonaram penosamente a pátria em direção ao exílio, deixando para trás uma efervescentte vida judaica, uma época incrível quando judeus e mouros conviveram lado a lado com os cristãos. Em 1992, Juan Carlos I, de Bourbon e Battenberg, adentrou em Madrid a primeira sinagoga erguida em Espanha nos últimos cinco séculos, e diante da sua Reina Sofia, do General Chaim Herzog, presidente do Estado de Israel, e de um punhado de descendentes daqueles mesmos judeus expulsos pelo reis católicos, declararia ao mundo seu desejo real de que a paz viesse para todos os povos... No alto daquela casa de orações, as mesmas inscrições da Sinagoga del Transito de Toledo foram reproduzidas, como que a simbolizar a continuidade judaica. A humanidade muito deve aos que partiram da Sefarad, e seus descendentes, pelo importante papel que desempenhariam nas ciências, artes, cultura, negócios, etc. A sua busca por um lugar onde pudessem acreditar em seu D'us sem ter que prestar contas ao rei, em que pudessem praticar sua religião livremente os levaram a descobrir um novo mundo, e assim muito ajudaram a lançar as bases da nossa sociedade civilizada. E dentre tantos que tiveram que partir de Sefarad, estava um remoto antepassado do Sargento Jacob David Cohen, que via Sidon acabou chegando ao Brasil. Várias sinagogas sefaradis se situam num raio de alguns quarteirões tijucanos, como a Beyruthense, União Israel, Maghen David, e o Templo Sidon, este herdeiro das ricas tradições sidonenses, quase centenárias no Rio de Janeiro, a princípio instalado no centro da cidade, que reunia a comunidade oriunda daquela cidade libanesa. Mais tarde, com a abertura da Avenida Presidente Vargas, houve a mudança para a atual sede na Tijuca. Em 1938 Jacob cursava a Escola Superior de Comércio, realizando a Linha de Tiro na Vila Militar, onde teve como Instrutor o Sargento Torreão, e como colega de farda o jovem Mair Credman. Em 1942 foi transferido para Olinda – PE, ao 2° Grupo do 3° Regimento de Artilharia Anti-aérea, onde era sargento da Batéria de Metralhadoras. A Batéria contava com um grande efetivo, de 200 soldados e 10 oficiais. Na época temia-se por uma invasão alemã, e eram constantes os torpedeamento de navios mercantes nacionais, que determinaram a entrada o Brasil na guerra. Em seus deslocamentos do Rio para o Nordeste, Jacob navegou em águas sujeitas a ação submarina alemã, mas teve sorte, nada lhe acontecendo. Lamentavelmente, outra foi a sorte de seus camaradas do 7º Grupo de Artilharia de Dorso, que deslocava-se com toda a guarnição e matérial para o Cais do Porto, onde embarcaria para Olinda. Era preciso defender a nossa costa, para o que não hesitaram um só minuto, navegando pelo mar onde se escondia o submarino nazista traiçoeiro. Não haveriam de alcançar seu destino. A viagem não teve retorno para 150 dos 243 artilheiros, comandados pelo Major Landerico de Albuquerque Lima. Corria o mês de agosto de 1942. Navios mercantes que transportavam as tropas, o Itagiba e o Baependy não poderiam se defender do ataque cruel, ordenado por aquele cujo nome e sua memória sejam esquecidos. Diante da imensidão da tragédia, o povo foi às ruas a exigir uma resposta à tamanha covardia. Em apenas 5 dias, o U-507 torpedeou 6 navios nacionais, com a perda de 600 vidas preciosas de brasileiros. Ao todo, com o afundamento de 35 navios mercantes, o mar foi o túmulo de 1.050 patrícios inocentes. O Presidente Vargas declarou guerra ao Eixo, dando uma resposta a torpe agressão que vitimou os heróis do 7º GADo, na viagem que não chegaria ao destino. Passados 2 anos do repulsivo ataque, desta vez o resultado seria diferente. Os 5 escalões da FEB desembarcaram em segurança no solo europeu, onde haveriam de derrotar os mesmos nazistas que tantas vidas brasileiras haviam ceifado. Ainda em Recife Jacob serviu no Estabelecimento de Matérial de Intendência, onde ajudou a suprir a logística necessária ao esforço de guerra, sendo em 25 mai 1945 transferido para a Sub-Diretoria de Subsistência no Rio de Janeiro. Era sócio efetivo da Associação dos Ex-Combaténttes do Brasil, Seção Rio de Janeiro, por ter se deslocado em comboio marítimo e integrado o dispositivo de Defesa do Litoral, e Pensionista do Ministério do Exército, por ter sido convocado e ficado a disposição da Força Expedicionária Brasileira, não tendo embarcado para a Itália em função do término do conflito. Jacob foi agraciado com a Medalha da Vitória, da Associação dos Ex-Combaténtes do Brasil, pelo seu trabalho de união dos veteranos, gozando de grande consideração e estima naquela casa, como relata seu filho Marco Jacques Cohen. Jacob faleceu no Rio de Janeiro aos 72 anos, em 16 fev 1994. Jacob David Niskier Jacob David Niskier nasceu aos 18/6/1901 em Irati - PR. No final do séc. XX, seus pais emigraram de Ostrowiec, cidade na Polônia, 160 km a sudeste de Varsóvia. Era uma cidade judaica, aonde a população chegou a ter 90% de judeus. Esta importante comunidade poucas décadas depois seria exterminada pelo ódio. A Família Niskier era grande e bem situada em Ostrowiec. Muitos se salvaram do Holocausto, emigrando para diversas partes do mundo, para onde se conseguisse o visto salvador, como Toronto no Canadá, Estados Unidos, Israel e Brasil. Aqui as novas gerações dos Niskier deram ao Brasil importantes nomes na Educação e Cultura, Direito, Medicina, Engenharia e outras atividades, alguns de projeção nacional e internacional. É uma família bastante extensa. Jacob, como muitos brasileiros natos de primeira geração na época, teve uma infância e juventude pobre. A regra geral era se dirigir para o comércio. Jacob era o irmão mais velho, mas não tinha nenhuma queda para o ramo. Chegou a ser mata- mosquitos para poder estudar. Mas a história corre por caminhos que só o Grande Arquiteto do Universo conhece, e um dia Jacob viria a ser um Comandante da Marinha Mercante do Brasil. Suas lides o levariam de volta a Polônia, desta vez para buscar navios que o Brasil encomendara naquele pais, trocando-os pelo bom café brasileiro, o que renderia anos depois o episódio que ficou conhecido como “as polonetas”, títulos obscuros alvo de negociatas, conforme noticiavam os jornais. Nesta ocasião Jacob teve a oportunidade de visitar Ostrowiec. As casas e propriedades de seus pais e familiares, de onde foram tangidos pelos nazistas para o Campo de Concentração de Treblinka em 1942 / 43, ainda estavam lá. Pouquíssimos se salvaram, e ao tentarem retornar tiveram negado o acesso as antigas propriedades, já ocupadas por invasores. Antes do Holocausto (1939-1945), na véspera do Shabat, o Rynek, a praça do mercado de Ostrowiec, efervescia de carroças carregadas e donas de casa fazendo as últimas compras para o jantar festivo. O burburinho gerado pelo palavreado em yiddish cortando os ares em todas as direções aumentava à medida que o anoitecer se aproximava, para de repente cessar de vez, como por milagre. De lá, onde um dia floresceu uma comunidade temente a D'us seguidora da Lei de Moisés e guiada por sábios rabinos, pode se ver ao longe as Montanhas. Reza a lenda que lá vivem as bruxas, e elas ainda estão por ali. Mas os judeus se foram, para nunca mais retornar ... As sementinhas daquela árvore outrora pujante do Judaísmo Europeu vieram germinar em terras abençoadas, renascendo após atravessar os 7 Mares, como Jacob o fazia nos navios do Lloyd Brasileiro. E aqui deram frutos, sob o calor tropical acolhedor. Em 14 de Maio de 1948, poucas horas após a Declaração de Independência do Estado de Israel, o que ocorreu graças a uma Assembleia-Geral da ONU presidida pelo grande brasileiro Oswaldo Aranha, Jacob viveu uma experiência marcante. Em alto mar, avistou um navio já com as insígnias do nascente Estado de Israel, o que motivou a oportunidade de enviar uma saudação naval, a primeira recebida oficialmente por um navio israelense. Era a primeira manifestação em águas internacionais ligada à Independência do Estado de Israel. Jacob serviu em diversos navios que navegaram em águas costeiras e internacionais sujeitas a ataques de submarinos nazistas. O Brasil foi o 15º país do mundo em tonelagem de navios afundados pelo Eixo nazi-fascista. Centenas de brasileiros inocentes foram vitimados. Mesmo na condição de país neutro, navios brasileiros foram afundados, o que levou o Presidente Getulio Vargas a decretar guerra ao Eixo em agosto de 1942. Portanto, tendo navegado extensivamente em Zona de Guerra, Jacob esteve exposto aos mesmos perigos, tendo a Lei o reconhecido como Ex-combaténte por ter sido tripulante de navio mercante que participou de comboio de transporte de tropas ou de abastecimentos, navegando em Zona de Guerra sob a orientação das Autoridades Navais Brasileiras, no período mar/1941 a mar/1945, nos seguintes navios: Santos, Cayru, Raul Soares, Afonso Pena, Guaraloide, Cubatão, Aspirante Nascimento. Jacob foi agraciado pelo Presidente da República com a Medalha de Serviços de Guerra com 3 Estrelas. Como reza o Diploma, assinado em 25/jun/1948 pelo Ministro da Marinha, Almirante Sylvio de Noronha, “pelos serviços prestados durante a II Guerra Mundial ao lado das Nações Unidas contra os paises do Eixo, a bordo de navios mercantes nacionais ou estrangeiros, empregados em assegurar o abastecimento e o transporte de matériais necessários a obtenção da Vitória, tornou- se merecedor da Medalha Naval de Serviços de Guerra, com 3 Estrelas”. A exemplo de todo antigo Lobo do Mar, Jacob tinha muitas histórias para contar, como o salvamento de náufragos hindus ao largo da costa nordestina, o resgaté de correligionários de portos europeus, chegando até a correr risco de prisão pela Gestapo. Jacob era Maçom da Loja Estrela do Norte, a qual muitos Oficiais das Marinhas do Brasil e Mercante estavam afiliados. Felizmente foi avisado a tempo por Membros da Maçonaria local que não desembarcasse, sob pena de ser enviado a um campo de concentração. Jacob, Valente Navegador, dedicado Marinheiro Brasileiro de fé judaica, nos deixou em 1973 aos 72 anos. Jacob Gorender Jacob Gorender, renomado escritor, jornalista e historiador, nasceu em 20 de janeiro de 1923, em Salvador. Filho de Ana e Nathan Gorender, seu pai, judeu ucraniano socialista, não sendo sionista, emigrou em 1905 para a Argentina e de lá seguiu para a Bahia, onde como tantos correligionários naquela época, ganhava o sustento como vendedor a prestação. Gorender estudou na Escola Israelita Brasileira Jacob Dinenzon e posteriormente no Ginásio da Bahia, renomada escola pública onde estudava a elite baiana. Cursou a Faculdade de Direito onde teve contato com estudantes comunistas, que participaram ativamente da mobilização pela entrada do Brasil na II Guerra, após os torpedeamentos em 1942. Em 1943, Gorender, Ariston Andrade e Mário Alves apresentaram- se como voluntários a FEB, este último não tendo sido aprovado no exame médico. Gorender foi soldado da FEB, tendo servido no 1° Regimento de Infantaria, o Regimento Sampaio, da Vila Militar, Rio de Janeiro, onde integrou o Pelotão de Transmissões, participando das batalhas da Tomada de Monte Castelo, Montese, Campanha dos Apeninos e a ofensiva até Piacenza. Embarcou para a Itália com o 1° Regimento de Infantaria aos 22 set 1944, retornando com a mesma unidade em 22 ago 1945. Contou tempo no Teatro de Operações da Itália de 06 out 1944 a 11 ago 1945, sendo licenciado do serviço ativo aos 15 set 1945, como Reservista de 1ª Catégoria, tendo sido agraciado com a Medalha de Campanha. Seu Comandante foi o Capitão Castello Branco, e o Comandante do Regimento o Coronel Caiado de Castro. Em Pistóia, na Toscana, freqüentou a sede do Partido Comunista Italiano, presenciando discurso de Palmiro Togliatti [1893 – 1964], secretário–geral do PCI e homem de confiança de Josef Stalin na Itália. De volta ao Brasil militou no PCB, legalizado em 1945. Foi sócio-fundador da Associação dos Ex-Combaténtes do Brasil. Jacob, um dos grandes vultos intelectuais da FEB, reside atualmente em São Paulo, sendo Professor Visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP.


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